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Entrevista por Herlander, Joana Duarte, João Reis Moreira
Fotografia por Francisco Narciso
Styling por Ruben de Sá Osório
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Ana Moura gosta de acreditar que as coisas acontecem por um motivo, como nós gostamos de acreditar que ela assim o é. Compõe de forma livre, navega sem restrições por géneros de música, veste-se como quer, dança e canta como que para nos guiar a todos por um caminho que só pode ser melhor do que era antes. O poder de assumir quem se é, como se fosse fácil, e desviar-se da rota mais cómoda do que é padronizado, (e)levou-a a um lugar de novidade no verdadeiro sentido de original, aquela que faz os olhos brilhar, os narizes torcerem-se, as sobrancelhas arquearem-se. Ela sabia para onde queria ir e, tão ou mais importante, de onde partiu e neste embalo musical que serviu de hino à SOLO nos últimos meses, fez-se acompanhar de talentos únicos que falam a mesma linguagem. It takes a village ou é preciso uma Ana Moura.
Herlander: Que influência te levou a querer seguir música e como é que essa influência manifesta o teu agora?
Ana Moura: Eu acho que foram os meus pais, porque o meu pai era músico, tocava guitarra, bateria, cantava... E depois quando se casou coma minha mãe deixou de fazer concertos mas em casa sempre ouviram muita música, convidavam amigos para ir lá e saiam muito à noite. O meu pai sempre acompanhado pela guitarra, havia sempre música. Às vezes quando me perguntam quando tudo começou nem tenho bem memoria porque foi desse pequenina mesmo e penso que foram os meus pais que fizeram com que eu tivesse esta paixão e este amor pela musica.
H: Os nossos pais vão sempre moldar a forma como desenvolvemos a nossa relação com a Arte. Tens alguma memória particular?
AM: Os meu pais nunca me disseram devias fazer assim ou não. Dão-me opiniões do que sentem das minhas músicas, mas nunca tentaram balizar. Só através das músicas que punham a tocar em casa e que inevitavelmente acabaram por influenciar o que faço. A minha mãe sempre cantou fado em casa. O meu pai cantava música angolana, brasileira, cresci com todas essa influências e ouvia-se e dançava-se principalmente musica angolana (a minha mãe é angolana e o meu pai foi para Angola aos 11 anos). Tudo isto acaba por refletir aquilo que faço hoje em dia.
Joana Duarte: Estas influências existiam só na casa dos teus pais ou na família toda?
AM: Toda. Era a minha avó, as minhas tias... A família da minha mãe é muito numerosa. A minha avó teve oito filhos, perfilhou quatro do meu avô e ainda adotou duas crianças. Nós somos muito ligados, eu e os meus primos. A dança sempre foi muito importante nestes convívios de família e por isso é que agora tem sido muito estimulante estar a manifestar-me através da dança em concertos, porque nunca o tinha feito. Embora eu sempre movesse ali a anca, quem me quisesse imitar a cantar em palco mexia a anca (risos)
Uma das músicas que tenho neste meu disco, que é das mais importantes, é uma que dedico à minha prima Claúdia, nós quando eramos miúdas dançávamos muito para os nossos avós...
JD: Nesses momentos de reunião familiar, destacavas-te?
AM: Sim, sim. Eu não me destacava em imensas coisas, porque sempre fui extremamente tímida, mas havia coisas onde me destacava e eram estas. Lembro-me da primeira vez que fui a uma discoteca africana eu nem dancei. Eu estava tão apaixonada e a apanhar os ‘toques’ todos. Quando chegamos depois a casa, estava com a minha prima Claúdia e com os nossos pais, e comecei a dançar. E eles ficaram: “uau”. Apanhei muito rapidamente.
João Reis Moreira: Esse background é muito diferente do meu. Quando a minha família se juntava havia muita conversa, mas nunca o hábito de ouvir música ou dançar. Comecei na escola e em vídeos do Youtube, sozinho.
Queria perguntar-te como é que agora que estamos a trabalhar juntos e estás a colocar a coreografia, dança, bailarinos no teu show, e que tens essa layer extra de comunicação com o público, como sentes essa transformação? Por um lado, sentes que é aditiva ao teu show ou se o show ficar mais complexo em termos e cena essa moldura pop pode perder intimidade?
AM: A intimidade está lá na mesma. Percebo a pergunta e também receava isso. Num concerto há espaço para toda essa narrativa e é isso que tenho sentido. Quando estou em concerto o que sinto agora é que consigo ser eu inteiramente. Ou seja: nos meus concertos anteriores havia uma parte de mim que estava a partilhar com o público, mas agora existem todas estas partes que também fazem parte de mim. Eu sempre adorei dançar e agora é uma sensação incrível estar em palco e estar a expressar-me com o meu corpo e depois olhar para o público e ele estar a responder, também a dançar. Eu nunca tinha tido essa experiência e é mesmo incrível.
Agora estava aqui a lembrar-me, ainda sobre os meus pais. Eu estou em casa e estou a ouvir música. Eles entram e agarram-se um no outro e começam logo os dois as dançar. E agora a minha bebé, que acabou de fazer 10 meses, ouve uma música nem que seja no telejornal e poem-se com as perninhas abertas e braços no ar a dançar. Acho que é genético.
JD: E sentes que a roupa também te ajuda nessa expressão em palco?
AM: Sem dúvida. Agora com estas coreografias há movimentos que eu quero que as pessoas percebam que estão a ser feitos. E se a roupa for larga ou estruturada não ajuda. A roupa tem muita essa particularidade e continuidade de passar a mensagem, a história. Agora quando eu te pedi para fazer estes outfits para a tournée de Janeiro pedi-te muita transparência, e isso também me ajuda a contar o que estou a querer contar com este disco. Ao usar transparência sinto que estou a ser poderosa, ok com o meu corpo, a vivê-lo, a celebrá-lo e a sentir-me livre para o fazer. Eu sinto-me livre, eu é que dito as regras do meu ‘corpinho’.
JD: No caso das peças da Behén, os próprios bordados ou técnicas têm um peso diferente. São feitas a mão, o tempo que envolve... Sentes essa carga emocional? Ajuda-te em palco a transmitir ao público?
AM: Acontece uma coisa especial quando vejo uma peça tua, porque há uma relação que não é só de admiração, é de afeto também. Mexe com memórias. Os tecidos que usas fazem-me lembrar a minha mãe, a minha avó, que vêm lá de trás. Tenho esta ligação muito especial com a tua roupa por isso. E obviamente saber que existem estas artesãs que dedicam imenso à construção destas peças e com toda a sua sabedoria... Imagino-as com todo o detalhe. Eu trago-vos a todas comigo. Estou em palco e somos todas nós.
É como esta ‘coisa’ da equipa – nós falamos muito sobre isso. Lembro-me quando comecei a cantar era extremamente tímida e tinha de estar sempre à frente. Havia três músicos atrás e eu estava a meter-me sempre dentro deles. Eu dizia que queria era ter uma banda. Normalmente as vocalistas querem uma carreira a solo e eu sempre quis o contrário. Eu queria equipa e agora tenho estado a viver isso cada vez mais rodeada de uma equipa incrível... Tenho partilhado com o João que estou a viver um sonho. Esta tournée de Janeiro foi incrível.
“Tu conquistas um lugar, mas não dá para relaxar. Mas isso é uma coisa bonita... Eu agora sinto que estou como se estivesse a recomeçar, a trabalhar com pessoas novas, a conhecer outras formas de me manifestar, isso é apaixonante. Mantém-te com a chama acesa. Não acredito nesse lugar de tu já teres atingido tudo o que podias porque o que é que é isso? Não é só sobre chegar ao maior número de pessoas, é concretizares-te de várias formas. E espero que isso aconteça até ao fim dos meus dias.”
Casaco Béhen.
Calções Alves Gonçalves.
Sapatos Ana’s own.
Top Marques'Almeida
JRM: E pegando na questão dos looks - estas quatro capitais, estes quatro coordenados, foi muito bonito perceber a cada show – no final de cada show fazíamos adaptações para o seguinte e só de vestir as novas peças os movimentos da Ana acabavam por se transformar. A roupa assenta em sítios diferentes e ela já dança de forma muito diferente. É muito importante o que vestes em palco.
JD: Sempre sentiste essa relação com a roupa? Nessas performances para a família já te arranjavas de forma diferente?
AM: Ahh sim, sim. E maquilhava-me. Isto já vem de família- A minha avó e a minha mãe mesmo se não saíssem de casa maquilhavam-se. Domingo, vamos todos almoçar a casa da minha mãe, ela está toda arranjada. A minha avó também com os seus brincos, makeup, sempre. E eu gosto muito disso porque sinto que estou a respeitar as pessoas que me estão a ouvir. Quando eu me arranjo, seja para os meus pais, eu quero que eles me vejam bem - é um respeito para com as pessoas estares bonita e arranjada.
JRM: Tu aproveitaste o confinamento para estar em casa com as pessoas com quem quiseste colaborar para este teu último disco. É um trabalho que sai de estar em casa muito tempo a trabalhar de uma forma super focada. E agora tudo voltou ao que era, e voltas à estrada e tour e concertos em todo o lado. Como vês a tua capacidade criativa em trânsito? Ou para criar tens de voltar ‘a casa’ ou a um sítio que controlas?
AM: Eu tendo a responder a essa pergunta a precisar de estar em casa, no silêncio, mas também me tem acontecido estar em casa e sentir uma pressão de ter de estar a criar e não conseguir. E depois, por exemplo com uma música que estou a fazer com o Herlander, estava a ir para casa dos meus pais, no carro, a ouvir um beat e saiu-me uma melodia. Acontece-me muitas vezes uma coisa muito curiosa, que é estar a dormir e estar a cantar, agarro no telemóvel e gravo melodias. É assim que acontece.
H: Eu que gravo, escrevo e produzo em casa crio uma relação com o espaço na qual tens de estar a trabalhar. Como equilibras isso?
AM: Estou a estudar como fazer isso. A casa é suposto ser o lugar onde estás a descansar e a usufruir de outras coisas e estou a perceber como fazer essa gestão.
H: Sentes que quando começaste a entrar no mundo das artes, no mundo da música, tiveste algum reality check? Eu sinto que quando era mais novo era um sonho, um romance de artistas e há sempre uma romantização da indústria e o que significa...
AM: Eu estou numa fase muito positiva (risos) Portanto, aquilo que me apetece partilhar é que eu acho que é a coisa que me dá mais drive para continuar. O ensinamento mais profundo e que eu senti logo no início é que tu se queres concretizar um sonho tens de viver a full time para isso. Não há meias medidas. Se queres concretizar aquele sonho como idealizas tem de ser uma entrega total. Às vezes estou com pessoas muito mais novas e que tiveram muito mais experiências do que eu e sinto-me uma miúda. Houve muitas coisas que não vivi porque me dediquei a tempo inteiro a concretizar este meu sonho. Lembro-me dos meus amigos combinarem todos os fins-de-semana ir sair e eu não tinha isso. Os meus concertos eram ao fim-de-semana. Eu estava sempre ao contrário deles, não podia estar em ambientes com fumo, beber álcool, porque ia influenciar as minhas cordas vocais. Eles combinavam férias, viagens... as minhas viagens eram através do meu trabalho. Foi uma escolha minha, mas esse foi o reality check. Agora estava-me a lembrar de uma vez contarem-me uma história doAl Di Meola (um instrumentista extraordinário) sobre um encontro com um fã que lhe disse ‘eu dava a minha vida para tocar como o Al Di Meola’. E ele respondeu ‘pois, eu dei a minha’. Continua a ser este o reality check: tu conquistas um lugar, mas não dá para relaxar. Mas isso é uma coisa bonita... Eu agora sinto que estou como se estivesse a recomeçar, a trabalhar com pessoas novas, a conhecer outras formas de me manifestar, isso é apaixonante. Mantém-te com a chama acesa. Não acredito nesse lugar de tu já atingiste tudo o que podias, porque o que é que é isso? Não é só sobre chegar ao maior número de pessoas, é concretizares-te de várias formas. E espero que isso aconteça até ao fim dos meus dias.
“O maior risco que acho que corri foi querer montar uma estrutura que era completamente diferente da que existe no mercado. Para mim esse foi o meu maior desafio e mete medo. Mete medo, mas ao mesmo tempo quando me dizem que é corajoso... Não sei se é coragem. As escolhas que fazemos são consequências do que nos foi acontecendo. Eu agora quero é viver. Amanhã sei lá, tudo pode acontecer. Já fiz muita coisa... Agora quero viver à minha maneira.”
SOLO: Em que momento é que tu viras o foco para esta equipa de que te rodeaste? É de uma coragem tremenda, abandonar todo aquele formato que tinhas e lançares-te de cabeça com este grupo de ‘malta nova’, na música, na moda, no management – foi uma dificuldade ou foi óbvio esse caminho? Tiveste dúvidas se era demasiado arriscado?
AM: Tem a ver com a minha forma apaixonada de viver. Eu não tenho aquela coisa de – ‘eu agora estou naquele lugar não é um miúdo que me vai ensinar’... Ainda existe esse pensamento. Tenha a idade que tenha, venha de onde vier, sempre tive esta forma apaixonada de querer conhecer e me deixar contagiar por pessoas que me despertam curiosidade.
H: Há pouco estavas a falar da radio, como ainda não há espaço para pessoas que estão a fazer novas sonoridades.
AM: Pelo menos um por dia. Mostrar um músico que ninguém conhece. Porque as pessoas não se podem identificar com algo que desconhecem. Não estão a dar essa oportunidade às pessoas.
S: Assumiste para ti a responsabilidade de correr este risco. Não ficas apoiada em nada.
AM: O maior risco que acho que corri foi querer montar uma estrutura que era completamente diferente da que existe no mercado. Para mim esse foi o meu maior desafio e mete medo. Mete medo, mas ao mesmo tempo quando me dizem que é corajoso... Não sei se é coragem. As escolhas que fazemos são consequências do que nos foi acontecendo. Eu agora quero é viver. Eu já cumpri o meu objetivo, agora vou viver à minha maneira. Amanhã sei lá, tudo pode acontecer. Já fiz muita coisa... agora quero viver como eu quero.
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Significa irmã em hindi e dentro da sua irmandade tem nomes desde Ana Moura a Rosalía. Com uma missão que vai além do palpável, Joana Duarte continua a resgatar enxovais dos baús e a tirar a mestria manual portuguesa das gavetas.
A história da Behén surge relacionada com a tua avó e ao longo do teu percurso sempre te preocupaste em contar a história de várias mulheres. Quem são elas atualmente? E que parte desta história é tua?
São muitas. Trabalho com várias técnicas e são essas mulheres que fazem essas técnicas, não só as bordadeiras mas também pessoas que partilham comigo historias, histórias sobre enxoval da família, que me convidam para ir ver. É uma partilha constante, e vem não só do lado dos clientes, mas a maior parte das vezes são vizinhas. Ainda ontem era para ter ido para casa de uma senhora na Graça ver o enxoval da mãe dela. Faz parte do meu dia a dia falar com estas senhoras, a maior parte mulheres sim, e que me contam histórias que as vezes não são só relacionadas com a técnicas em si, mas com contexto, histórias de famílias, algumas muito dramáticas outras muito bonitas e que acabam por influencer o processo criativo. Eu aprendo muito coisa. Quando eu falo da importância de se proteger estas técnicas, tornando património e material, não é só as técnicas em si. É toda a abordagem emocional e as histórias que as próprias técnicas têm guardadas. Se não pensarmos bem nisto não é evidente.
A amioria de nós, agora estamos a olhar com outros olhos, mas ate aqui são os ‘trapos’ da minha avó. Falta uma cultura de explicar de onde vem, ou uma curiosidade.
Há uma certa não quero usar a palavra desprezo mas, lá esta, eram coisa feitas no contexto domestico, por mulheres, para ganhar uma trocos. O homem é que ia ganhar dinheiro, trabalhar, e as mulheres ficavam em casa a ocupar o tempo a fazer bordados para fazer algum dinheiro. Não era um indústria, só mais tarde com o bordado da madeira e mesmo assim ganhavam muito pouco. Nunca houve essa valorização destas skills e por isso é que a maior parte delas ficaram fechadas em gavetas e uma geração como a nossa nunca olhou para isto com uma outra visão. Há uma desconexão e falta de valorização, ok isto era feito em contexto doméstico, mas não tira o valor da técnica em si. Estamos a falar de uma complexidade que deve ser hoje em diz valorizada ate porque se esta a perder. E depois traz todas estas histórias que fazem parte da nossa identidade enquanto portugueses. É um assunto muito complexo, com muitas camadas.
E estamos a falar de mulheres porque isto foi passado de mulheres para mulheres.
Só mais tarde quando foi criada a indústria dos bordados da madeira é que já há homens, na gestão dos próprios negócios. Mas a maior parte das pessoas são mulheres.
Quando começaste já tinhas noção disto?
A minha avó é bordadeira. De um lado são agricultores e havia muito esta questão do enxoval, a minha bisavó já bordava em casa, a minha avó também. Não tinha noção da complexidade da indústria em si.
Quando fundaste a marca tinhas em mente duas preocupações, o impacto ambiental e social. O social é o que acabamos de falar, o ambiental também tem a ver com ires buscar matéria-prima já existente?
Isso teve a ver com a forma como o projeto começou. Quando criei a Behén tinha acabado de sair da faculdade e o meu contexto na altura era muito a aminha avo, as minhas gavetas e baú. E as vizinhas que me traziam constantemente coisas para guardar, porque as famílias delas não queram ficar com as coisas. Então na altura também me foi dada muita coisa par eu de alguma forma salvar. As pessoas deitavam para o lixo! Já havia uma tendência para esta questão do upcylcing. Por isso eu percebi que havia um potencial a nível de projeto, só não sabia que havia em Portugal e relacionado com estes têxteis. Nunca foi o meu foco principal. Quem é que vai continuar, quem é que vai aprender, já não há mãos iguais a estas. E essa era a parte que me motivava mais. As bordadeiras trabalham com fibras naturais, algodão, linho, sedas, lã – agora tenho introduzido materiais mais tecnológicos, como nesta nova coleção, a cortiça. Ok, e mesmo existindo esta introdução é tudo muito pensado: a cortiça é um material extremamente português e as pessoas não sabiam que tinham este potencial a nível de material. É sustentável e é nosso, é produzido cá, é premium.
Como chegaste até à cortiça?
Falei com a associação portuguesa da cortiça que me fez a ponte com vários fornecedores. Eu andava a pesquisar materiais diferentes, fugir à ideia que os bordados só podem ser aplicados sob o linho ou algodão. O meu objetivo é mostra ro quão skilled são estas pessoas. É uma questão de se testar, de se experimentar.
E qual a reação das bordadeiras quando chegas com a cortiça?
É desafiante. Não é fácil mas as que trabalharam com estes materiais são pessoas que trabalho desde o inicio da Behén. Já estão habituadas a que as coisas sejam diferentes do que costumam fazer. E depois é ouvir o feedback do outro lado – eu não mando uma coisa e fico à espera que apareça feito. Há coisas que não resultam.
Esta estética que tu criaste e que se tornou a imagem da Behén, tão ancestral quanto contemporânea e pop. Era algo que sempre soubeste que crias fazer? Ou foi crescendo à medida que foste trabalhando com os materiais?
Sempre pense que se fosse para criar um projeto com base nestas técnicas, tinha de ser o mais cool possível. Caso contrário não iria resultar. Eu pedi opinião a algumas pessoas, algumas da indústria lá fora, e perguntava e tentava dar a entender que se for muito focado nas crafts como tornou isto visualmente interessante? Em termos estéticos esta sempre a evoluir. Esta última coleção a termos de patterns e coleção está mais elevated. Se não tivesse essa parte iria ser mais um projeto da palavra artesanato que depois é tudo meio ‘bege’. Eu as vezes penso que a Behén acaba por ser um palco para essas técnicas todas e rapidamente consigo comunica-las e apela visualmente a várias pessoas. De outra forma, com uma estética diferente, fica ali estanque.
Já tinhas essa estética antes?
Não, porque eu não queria ser designer de moda. Fui para o mestrado mas achava que não me identificava com os tecidos ou com o que estava a fazer. Havia qualquer coisa que faltava. O meu primeiro projeto da faculdade foi com uma colcha antiga de uma vizinha da minha avó e foi a partir dai.
As pessoas entendem? Quando celebridades lá de fora vestem as tuas peças, vão há procura desse lado emocional da marca? Ou puramente estético?
Primeira reação é estética. Mas depois há essa componente dessas histórias por trás que adicionam riqueza por trás. Mas é sempre estético – caso contrário não resultaria.
Trabalhas mais para o mercado internacional do que nacional. Já criavas a pensar lá fora?
A estratégia está definida desde que o projeto começou, eu sabia que tinha de apostar primeiro lá fora, mas depois cá as coisas começarem a mexer. Os projetos lá fora é o que muda as coisas cá dentro. A jersey que fiz com o bordado para a Off-White, cada vez que visto alguém que vem de fora... Faz muita diferença, mas principalmente cá. Começam a olhar para o projeto de outra forma. Ainda por cima sendo um projeto tão recente.
Ainda ficas surpreendida com tudo o que está a acontecer?
Não. Mas gostava que fosse mais rápido (risos). Mas tenho várias etapas e objetivos e quero que deem certo.
O que tens planeado para os próximos tempos?
Estou com um projeto muito grande nos Açores, não com a Behén a desenvolver peças mas a convidar marcas internacionais para virem desenvolver projetos com artesãos. A Behén a abrir portas. E tenho de me focar no e-commerce.
Equipa
Cabelos Eric Ribeiro
Maquilhagem Alex Origuella
Set designer Pedro Vercesi
Assistente de fotografia Leonor Carneiro
Assistente de set design Martim Diniz
Realizador Gustavo Nina
Direção de fotografia Bernardo Infante
Produção Larissa Marinho
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