Carolina Amaral

Carolina Amaral

ENTREVISTA POR RITA BLANCO

Fotografia Freferico Martins Styling Cláudia Barros

“Tu não te ofendas. Mas assim ao longe, ao longe as nossas caras até são parecidas”- solta Rita Blanco a Carolina Amaral logo no início da chamada de zoom, uma em Lisboa a outra em Guimarães, e que bonitas são as similaridades que encurtam a distância entre aqueles que gostamos. Que gostamos, só porque sim, porque as afinidades não têm de ter causa ou relação, ou porque o tom do cabelo é mais escuro, ou as sobrancelhas carregadas, ou porque há uma energia adocicada que foi ficando para trás e cujo brilho no olhar nos relembra o quão felizes já fomos na nossa ignorância. É assim que se entrecruzam Carolina e Rita, entre as similaridades-raíz e os óculos de ver o mundo com diferentes graduações – une-as a forma como veem os livros, a seriedade com que prestam a sua arte, uma conexão natural e a gratidão por, num projeto recente onde gravaram juntas, terem sido pilares e redes de salvação e colo e abraço e ninho ou resumindo nas palavras de Blanco, “mulheres que se juntam e se apoiam e isso é mesmo simpático”.

RB – As minhas perguntas ao princípio vão parecer muito, muito de lana-caprina. Mas é para chegar a um certo sítio. Eu gostava de saber porque é que tu és atriz, o que é que te levou para aí?


CA –
Olha sabes uma coisa curiosa, estavas há pouco a falar da minha energia, da minha foneticidade, e é uma coisa que me acompanha desde que eu sou criança e sempre me senti muito desadequada nos lugares que frequentava. Era muitas vezes apontada como se, por um lado, fosse um elogio, era extrovertida, mas também podia ser descompensada. Podia ser quase maluca.
Sempre muito agitada, muito curiosa, não me calava, falava, falava, falava e por vezes nos contextos em que me encontrava não me sentia justa ou integrada - não que eu sentisse isso com uma afronta, apenas era e daquela forma imprevisível, mas à minha volta era muito criticada.  Vivi até aos quatro anos nos Açores, em São Miguel, porque o meu pai é açoriano e vim para o Norte de Portugal para Guimarães, para uma nova escola, e havia uma festa de final de ano para a qual fui convidada a participar. A minha mãe contou-me que na altura ficou muito preocupada, foi falar com as Irmãs e os educadores, ‘a Carolina vai arruinar os espetáculos, ela tem muita energia, ela vai destruir aquilo. Não é boa ideia’ e que na altura eles lhe disseram que sabiam o que estavam a fazer.  E eu ainda tenho memória física e sensorial de estar muito afogueada e com uma grande energia a atravessar-me mas com um contexto surrealista, porque era uma peça que tinha muitas personagens e era quase mímica, mas tinha uma Irmã a fazer a voz e eu imitava, fazia, mexia, andava lado para o outro, sempre ali. E lembro-me de sentir muito integrada. Claro que uma pessoa só formula e só consegue perceber aquilo que se passou com alguma distância, mas, de facto, olhando para esse momento eu senti muito à vontade, muito solta, muito livre e nada condenada. Tanto que quando acabou o espetáculo, lembro-me de diferentes pais irem ter com a minha mãe e lhe terem dito que eu tinha jeito de artista. Fui estranhamente apreciada e também associei esse momento não só a um bem-estar e a uma liberdade criativa, como me senti adequada num lugar. Nem mais nem menos, senti-me justa e acho que foi a primeira vez que eu me senti não só aceite pelos outros de alguma forma, mas sobretudo que a minha energia estava a servir uma coisa maior que eu e que chegava aos outros. E na continuação das festas e depois de entrar no Ballet, essa possibilidade de integrar um imaginário, um projeto que toque os outros e onde eu não me sinta desajustada, antes pelo contrário, consiga servir e transportar esse imaginário comigo, foi o que que me marcou profundamente. A carne, o pensamento, a intuição. E ficou quase incrustado. Tanto é que apesar de tudo, não estou numa família artística, tenho familiares com grandes sensibilidades, mas nunca tive grandes exemplos à minha volta e grandes referências. No entanto, quando chegou a altura, para mim era-me evidente – e sou uma rapariga interessada por várias áreas, adoro literatura, filosofia e, portanto, poderia ter ido por aí e com certeza também me espicaçaria e daria satisfação. Essa escolha não foi propriamente uma escolha determinada,  foi uma coisa que me era evidente, ao mesmo tempo que é assustadora, porque foi uma coisa que me foi quase imposta ou imperativa da minha própria natureza e do meu imaginário, porque senão estaria a frustrar por demasiado e murcharia.


RB – É engraçado, porque há imensos pontos em comum. Pronto, eu nunca senti muito prazer, eu odeio, mas ainda assim.


CA –
Sabes que eu às vezes penso: e se eu parar agora? E se eu não continuar? Era-me muito mais confortável ficar em casa, ter as minhas leituras, escrever...


RB – Precisamente: eu creio saber que tu és uma leitora assídua, não é? Tu gostas imenso de ler. Eu acho que me tornei atriz – não estamos aqui para falar de mim – por causa dos livros. Não achas que teve alguma influência?


 CA –
A minha mãe acalmava-me muito através do hábito da leitura. E eu. A única maneira que eu tinha de me controlar, a minha agitação, a minha vontade, a minha imparabilidade, se esta palavra existe, que eu sou uma pessoa de inventar palavras. [risos]


RB – Inventada, está inventada.


CA –
A leitura sempre me acalmou e me alimentou imenso. E é uma parte muito fundamental do meu dia-a-dia, da minha vivência, e creio que também a sensibilidade pode ter sido e foi exacerbada pelo hábito da leitura.


RB – A imaginação?


CA –
Parece que fico adicta a este alargamento do imaginário através dos livros. É uma coisa que me consome.


RB – E que te consola!


CA –
E me acalma, ao mesmo tempo que me estimula tremendamente. Em miúda a minha mãe instigava esse hábito para ver se eu sossegava. E, de repente, aconteceu um fenómeno, que era a minha mãe pedir-me para ler menos. E isso irritava-me. Nunca ninguém lê demais, para mim a leitura é infinita. Eu já fiz listas e listas e listas de livros que eu sei que nem que eu vivesse todos os dias a ler um livro por dia conseguiria lá. Acho que é uma coisa que, no caso da nossa profissão, sustenta o imaginário, a sensibilidade, enrijece e enriquece.


RB – E dá-nos mais tecido. Nós conhecemos milhões de pessoas, milhões de olhares através da leitura, a que jamais teríamos acesso. Por mais que tivéssemos vivências.


CA –
Eu ainda agora acabei de ler um livro que me marcou que foi Humilhados e Ofendidos de Fiódor Dostoiévski, um escritor que li quando tinha 15 anos, Crime e Castigo que por impulso agarrei na biblioteca. E agora neste, por exemplo, fala de um dos sentimentos, o amor, que parece que porque atravessamos a nossa vida com ele à nossa volta achamos que conhecemos muito sobre o amor e sabemos muito sobre o amor. E de repente estava a ler um escritor russo, do século XIX, a falar do amor e parece que me deram uma estalada. A forma tão simples e singela com que ele falava do amor não correspondido entre duas figuras, e ainda assim amor, que me deixou completamente KO e toda a minha compreensão do mundo alargou de uma maneira que eu não estava de todo à espera. Tirou-me o tapete, mas de uma forma muito positiva. Por isso, esta questão da presença da literatura e da capacidade de nos densificarmos e ao mesmo tempo ficarmos mais vulneráveis, é uma coisa que não é só poética, é realmente a efetiva nos meus dias enquanto ser humano e no trabalho que faço.


RB – Quando olho para um ator que gosto, o quer que seja que isso queira dizer, gosto de saber o que é que ele come, o que é que lhe vai na cabeça e por aí fora. Quero ver as escolhas dele de alguma maneira. E as tuas escolhas, obviamente, são escolhas que estão recheadas, que vêm com peso e com densidade.


CA –
Sou capaz de falar sobre os livros que leio, mas muitas vezes eu acho que eles chegam ali a um sítio que é o registo dos sonhos e dos pesadelos e dos sustos e de uma certa inquietude que se trabalha em termos de imagens e de sensações, mais do que em termos de discurso. A mim trabalham muito esse lado obscurso  também.


RB – Então, e não é disso que a gente vive? O teatro não é a Arte do erro, da falha?
Agora posso fazer uma pergunta, tu achas que serve para quê? Não quero saber o que é que achas que serve para ti ou até pode ser que aches que serve só para ti e não tem mal nenhum. A minha pergunta é, achas uma missão, achas que é um lado ético que é que é importante respeitar, existir? Para se ser um ator. É que hoje em dia eticamente falando as profissões então um bocadinho desvirtuadas. Pergunto se tu achas que isso é importante ou não, para depois irmos para o internacional.


CA –
Acho que é fundamental estarmos em conexão direta com as nossas motivações e é o que nos faz estar ali. Sermos, digamos, quase fiéis e continuarmos a acreditar. No porque é que estamos a fazer aquilo.


RB – E porquê?


CA –
Aquilo que eu vejo, a minha verdade, é um sentido de missão de servir. Para mim um objeto artístico que possa tocar o outro, o público, e mudá-lo, perturbá-lo, provocá-lo, para que nessas intermináveis provocações que a arte suscita e que permite, consigamos pensar a existência e a condição humana. Para que possamos realmente sentirmos em comunidade, percebermos o nosso lugar no mundo e contribuirmos cada um, cada espectador, cada pessoa que tem contato com uma obra, conseguir estar mais em si, ao mesmo tempo  ter mais capacidade de se perder e permitir-se perder-se - porque muitas vezes nesta sociedade que é quase vigiada a 100% e nos vigiamos uns aos outros damos muito pouco espaço para o erro, a tal obscuridade. Para cair numa espécie de abismo que às vezes nos faz encontrarmo-nos mais. Acredito que nos objetos artísticos, quando há a essa provocação e conseguimos chegar ao público, as pessoas conseguem ser um pouco uma versão mais poderosa e mais justa de si mesmas e contribuir para um mundo necessariamente melhor ou mais acordado, mais alerta.


RB – De facto, cada vez mais um artista se não abanar e não for socialmente ativo, o mundo não evolui no sentido prático da coisa, do bem-estar das pessoas. É importante que um artista tenha uma utilidade, porque senão... Temos um exemplo que eu adoro sempre que é o Matisse. É impressionante como a revolta e aquela agressividade era tão criativa e tão perturbadora. E fazia-nos pensar – faz-nos pensar ainda hoje. Como é possível? Que bom existirmos artistas e aqueles que se destacam e mudam as nossas vidas. Mas pronto isto agora não interessa nada.

Pergunta assim parva, nesta profissão, o que é que tu gostas muito e do que é que não gostas nada? Uma que seja lúdica para ti e uma que não gostes nada.


 CA –
A parte que me atira ao mesmo tempo tem que ver quase como uma espécie de sacrifício, de entrega, de vórtice que me consome e que ao mesmo tempo me faz perder o controle. Ao mesmo tempo me lança quase para uma outra dimensão, que me alimenta, que me fascina. Só quando saio do mood, não é quando estou lá dentro. Quando estou atravessada não estou propriamente a versar sobre tal e não estou propriamente a ter grande consciência. Estou simplesmente a fruir e a entregar-me e isso pode acontecer numa improvisação no ensaio, pode acontecer num momento demasiado subtil ou singelo, um encontro, até pode ser uma coisa mais mínima e mais pequena, por exemplo.
Uma coisa que não gosto muito, mas é só quando penso, quando não penso não me faz mal. Se me ponho a parar a pensar – que é uma coisa que às vezes não faz bem – é a questão da exposição. Aquilo que me frustra mais ou que me deixa mais inquieta no mau sentido tem a ver com quando regresso às faculdades da Carolina no dia-a-dia, real, do meu quotidiano. Se me ponho a pensar muito, penso ‘mas porque faço isto? Porque é que eu me exponho desta maneira?’ Um embaraço, vergonha, quase pudor e uma vergonha. Mas se eu parar e pensar, a Carolina que está a cair não deixo de ser eu.


RB – É bom que não deixes.


CA –
Mas transportada para uma história imaginária e visão. Estou perdida do centro, do meu ego, é quase como se estivesse ao serviço. Estou a contar uma história, então estou atrás. Eu estou a mostrar uma sisão, estou a instigar, mas realmente se eu parar um bocadinho e me puser de parte, penso ‘mas o que é que eu acho que eu sou? Para convocar o tempo das pessoas?’.


RB – Mas às vezes também pode ser vergonha de gostar tanto de sentir isto. E esta coisa do ego num ator tem de estar sempre com o açaime posto. Embora tenhamos de viver com ele, se não andar com açaime...


CA –
Acho que é bom a partir do momento em que refletes sobre isso e te questionas. Perguntar o nosso lugar, se continuamos a servir. Há muitos truques de ilusionismo. Pode haver quando há muita atenção, podemos perder o foco e é importante que estejamos alerta.

Carolina Amaral

Top e saia    Marques'Almeida
Sapatos        Esc

Carolina Amaral

Vestido      Luís Carvalho
Sapatos    Reve de Flo

RB – Gostava de saber uma coisa, porque é uma coisa que gostava de saber, mas não tem nada a ver com ser atriz ou deixar de ser. O que é que te deixa momentaneamente feliz? Eu sei que felicidade não é constante, mas se calhar é. O que é tão bom?


CA –
Um bom tiramisu... vegan! [risos]


RB – Está a dizer isso por eu estar aqui? [risos]


CA –
Tu sabes que eu também não como carne. [risos] Mas assim uma coisa que me deixa feliz é... olha... Eu não devia estar a pensar tanto, pois não?


RB – Podes pensar, eu posso ir para outro sítio, se quiseres agora.


CA –
É que às vezes podem ser demasiado lugares-comuns.


RB – Então não digas, não te apetece, posso perguntar outra coisa. Queres ser atriz ou está na tua cabeça outra coisa?


CA –
Sinto muito a necessidade de criar os meus próprios objetos que vêm imbuídos das minhas visões, daquilo que eu projeto. Não fazer por fazer, mas porque me atravessa ferozmente. E há assim umas temáticas, umas zonas, que têm que ver também com o sagrado e com a dimensão da fé e da religião. Na verdade, a religião no século XXI, como é que nos ligamos ao sentir uma dimensão espiritual e, no meu caso, uma vez que andei num colégio de freiras, como frequentei a catequese, há um imaginário católico que me está muito incrustado e que me fala muito. A minha vontade é fazer uma reinterpretação desse simbolismo de modo a conferir um outro sentido e uma outra visão e outra perturbação. Hoje, no aqui no agora, haver uma reinterpretação de gestuárea e da oratória católica através da arte de modo a construir outros significados que nos aproximem do sentido do divino e da comunidade humana em relação com o Divino, muito embora a relação com a fé tem muito que ver com uma relação individual.


RB – Quero ver isso.


CA –
Escrevi um manifesto e uma espécie de mortos performativos que são uma espécie de poemas também invisuais, que estou agora em processo de edição. Uma edição de autor porque a mim interessava-me lançar este livro objeto com já uma intervenção. Foi algo que me vem a acompanhar há muito tempo, com muitas leituras, muita fundamentação da escrita e agora está mais próximo de reverberar esse lado de criação. Claro que é uma coisa muito específica, um universo muito particular, é a minha visão. No meu caso, as minhas inquietações são essas. Não é que não tenha outras inquietações da minha vida, mas artisticamente falando aquilo que eu desejo compor tem a ver com isso, com esse lado da dimensão do sagrado, da religião e especificamente a religião católica, numa outra reinterpretação no nosso século através da arte, de sustos artísticos.
                    Eu acabei por fazer um projeto em 2017, de Maio a Outubro, chamado Stella Matutina, em que fiz uma intervenção em espaços públicos a cada dia 13 do mês. Uma das intervenções foram sete corpos femininos a boiar durante 13 minutos em fontes centrais do centro da cidade de Lisboa, vestidas de negro. Queria saber quais seriam as reações. Outra fui eu vestida quase de burca e entrar numa igreja, sendo barrada.


RB – E agora para terminar, eu podia perguntar com quem gostarias de trabalhar mas isso a vida se encarregará desses encontros. Agora eu pergunto, o que é fundamental para se ser ator? Para se entregar algo aos outros.  Eu costumava falar de uma laranja quando era jovem, dizia ‘ser ator é uma laranja e tem de se fazer o círculo todo, cada gomo tem uma especificidade, como a generosidade e por ai’. Eu olho para ti e quero relembrar a minha juventude.


CA –
A reconexão ou conexão com os lugares e as memórias da infância acho que é um sítio quase essencial no nosso trabalho de ator - do espanto, da entrega, da capacidade de se soltar, de se entregar, de se deslumbrar e ao mesmo tempo de acreditar. Outra coisa: sentido de sacrifício. Tem a ver com a entrega sem pré-julgamentos. A generosidade. A capacidade de olhar o outro e acreditar e a conexão primeira e primária que é entre seres humanos e a sustentação dessa comunicação numa generosidade sem cobranças. Para construir é preciso construirmos juntos e acreditarmos que só assim é que as coisas acontecem. Essa quase magia de nos perdermos positivamente naquilo que estamos a fazer e descobrirmos novos sentidos e novos significados e que sabemos que muitos deles não vamos conseguir aprender porque estão do outro lado, porque estamos demasiado mestres nas coisas. Mas confiar também. Confiar nas pessoas com quem estamos, haver uma rede de confiança para o trabalho poder ter um lado ético que eu acho que é fundamental. A franqueza de si para consigo mesmo, de frequentemente irmos ao lugar inicial nos reconectarmos. Porque senão parece tudo um Forrobodó, uma festa. Regressar ao ponto inicial de contato com aquele poço fundo.


RB – De onde é que tu vens. É engraçado seres tão nova e já estares aí. Nunca nos podemos esquecer de onde viemos. Com tudo o que isso implica. Outra coisa que te estás a esquecer e que tu tens muito e que é fundamental, que é a curiosidade.    


CA –
Claro, tem a ver com o lugar também da infância, do espanto. Querer mais e seguir pelo túnel escuro, que não sabemos o que é que lá está, mas sermos intrigados e continuamos à procura.


RB – Tu és uma curiosa que se faz acompanhar pelos livros, isso é muito importante. Isso é mesmo importante. Um livro faz com que tu não possas ser infeliz. Eu sou uma infeliz e com um livro esqueço-me.

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Top            Amor de la Calle
Vestido    Alexandra Moura

Carolina Amaral 11

Top e saia             Maria Carlos Batista
Sapatos                 Tatuaggi

Carolina Amaral 12

Top e saia            Maria Carlos Batista
Sapatos                Tatuaggi

Carolina Amaral 2

Casaco e calças        Alves/ Gonçalves
Sapatos                        Tatuaggi

Carolina Amaral 3

Vestido     Rita Lbs
Sapatos    Tatuaggi

Carolina Amaral 4

Vestido    Kolovrat

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Vestido    Rita Lbs

Carolina Amaral 6

Fato    Carolina Machado

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Fato    Carolina Machado

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Moda

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LIDIJA KOLOVRAT

Kolovrat, a marca, nasceu nos anos 90 com um propósito cultural responsável, que agrega, reflete, acrescenta, instiga. Mantém-se atualizada: com um processo de criação intuitivo, as peças criadas pela designer natural da Bósnia trazem mais do que se vê à primeira vista, escarafuncham medos e refletem-nos como um espelho. Na primavera/verão 2022, fê-lo outra vez e em particular neste vestido mandala, uma conjugação de camadas de seda que meditam sobre a nossa acumulação de experiências diárias.

Qual a principal inspiração por detrás desta peça e qual o seu processo criativo?

Está relacionada com a mandala geométrica – um processo de evolução da nossa ideia da mandala, que é um efeito que serve para nos focar e para criar uma certa harmonia. Desenvolvemos um processo geométrico para chegar a uma mandala nossa, que falasse a nossa própria língua.

De que forma a situação inesperada de clausura dos últimos anos contribuiu para esta inspiração?

Tinha 20 anos quando comecei a procurar encontrar além daquilo que interiormente sentimos, formas de nos abrir a mente. Todas as minhas coleções estão relacionadas com experiências e momentos pessoais. Com a pandemia foi necessário voltar a encontrar essas formas – a meditação não será a fórmula certa para todos, mas há alguma coisa nestas mandalas que ajuda a harmonizar de uma forma não lógica (koan).

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Carolina Amaral

Como passou essa mensagem para este vestido em particular?

Através da criação de formas — justas ou desconstruídas — a partir das linhas geométricas do streetwear e da exploração da geometria sagrada - incluindo o vestuário tradicional conhecido, tal como um quimono - transformámos peças de forma a obter uma nova composição. Utilizando sobras de tecidos, valorizámos o vestuário, procurando o propósito de um exercício moderno, como uma mandala.

De que forma o conceito de liberdade serviu de 'guia' a esta sua coleção e que nova linguagem 'secreta' é esta que quis passar com esta peça?

O segredo da mandala é levar-nos propositadamente a lidar com a estratificação e acumulação das nossas experiências diárias. As ilusões vêm do ego, a verdade vem do coração. Encontrámos a liberdade de construir gráficos e padrões e de criar uma nova linguagem, que é secretamente codificada e não é óbvia. O que está aqui, é ao mesmo tempo complexo e acessível. Excluindo ninguém, mas exclusivo. Quando abraçamos a cor, encontramos a liberdade.

Lugar

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Imaginário Hitchcock

Mulheres e Hitchcock, por onde começar? Antídotos dos personagens masculinos, as musas do realizador inglês podiam não estar no papel principal, mas eram figuras centrais do clímax cinematográfico e reportavam a um imaginário de beleza que poucos precedentes encontrou. Nesta relação tortuosa, Alfred Hitchcock foi construindo o seu legado como rei do suspense e num editorial que se inspira no imaginário de mistério do cinema a moda bebe mais uma vez inspiração na sétima arte. Num jogo de luz e contrastes, Cláudia Barros assina a realização do shooting da atriz Carolina Amaral e conta-nos as suas cenas preferidas das protagonistas do cineasta.

“Grace Kelly é Lisa Fremont, uma mulher de sucesso na área da moda, apaixonada por Jeff (James Stewart), fotojornalista. Nesta cena inicial,  enquanto fala com Jeffries, Lisa fuma um cigarro. Só que as aparências iludem. Grace Kelly nunca fumava nos filmes, mas Hitchcock consegue negociar e, nesta cena, Lisa fuma... só que não. Vemos o momento em que ela acende o cigarro, mas o plano é cortado logo de seguida para Jeff. Quando o plano volta a Lisa, achamos que ela está a fumar pois o cigarro está aceso nas suas mãos, mas a verdade é que não aconteceu. Adoro esta curiosidade pois relembra-me a magia do cinema e o poder da sugestão na imagem - às vezes achamos que vimos algo que nunca aconteceu, apenas nos pareceu que aconteceu.”

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Vertigo (1958)

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Psycho (1960)

“Kim Novak é Judy nesta cena, mas antes fora Madeleine. Confuso? Veja o filme. Enquanto Scottie (James Stewart) fala à porta do seu quarto, Judy está sentada no sofá, em contra luz. Apenas temos acesso visual a esta silhueta escura e todo o plano é verde neon. O que me impressiona nesta cena, é ver apenas a sua silhueta e conseguir sentir todas as suas emoções - desilusão e tristeza. O imenso verde da cena também nos faz sentir este peso e melancolia.”


“Janet Leigh (Marion) conduz em fuga após ter roubado o dinheiro do seu chefe.  Enquanto vemos um plano frontal de Marion a conduzir e as suas expressões, em Voz Off ouvimos uma narrativa que Marion constrói na sua cabeça, criando possíveis diálogos – como quando o seu chefe e a sua colega descobrirem que fugiu com o dinheiro ou quando a polícia começar a investigar o roubo. Enquanto ouvimos esta narrativa as expressões da personagem vão mudando de inquietude e medo para confiança. Para mim, esta cena representa algo muito real: quantas vezes enquanto conduzimos pensamos em tudo e mais alguma coisa, mas também quantas narrativas construímos sobre conversas hipotéticas? Mostra também o quão rápido todos nós, humanos, conseguimos atingir diversas emoções e características, desde a inocência à presunção.”

Equipa

Cabelos Rui Rocha with Kerástase products

Maquilhagem Raquel Ribeiro with Sisley products

Assistentes de fotografia Pedro Sá, Márcio Duarte @ Lalaland Studios

Assistente de styling Patrícia Oliveira

Video Raul Sousa

Retouching José Paulo Reis @ Lalaland Studios

Produção Diogo Oliveira @ Lalaland Studios

Texto Patrícia Domingues

SOLO © 2024

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