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Entrevista por Diogo Martins
Direção criativa Jorge Silva Riveiro e Sara Peixoto
Fotografia por Frederico Martins
Styling por Joel Alves
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Netflix. Almodôvar. Globo. Prémios Sophia. Eça de Queirós. São muitos os nomes que podemos apontar para despertar a sua atenção, mas nenhum tão imponente e tão atual quanto o do ator que engloba isto tudo: José Condessa. Feitos de principiante para alguém que vale por conta própria, este é o miúdo do teatro que desde cedo tomou as rédeas da sua vida.
Diogo Martins: Tu cresceste a ver o teu pai a fazer teatro amador. Nutres por ele um sentimento de amor e uma referência de modelo maior na tua vida. O que te quero perguntar é: se ele foi o responsável por despertar este amor por representar?
José Condessa: Quanto mais tempo passa, mais eu consigo dizer que sim. E às muitas histórias que tu já ouviste, mas nunca me canso de as dizer. Eu e os meus pais, a minha família, morávamos fora de Lisboa e o teatro onde eu me estreei a fazer teatro amador é na Calçada da Ajuda, onde é o Teatro Luís de Camões. Ou seja, todos os dias eu ia com o meu pai para o Teatro antes de ir para casa. Então, eu acho que desde pequenino que tenho memórias de ir para o palco, de falar com as pessoas mais velhas, é das coisas que eu mais guardo do teatro amador e um dos maiores ensinamentos que tenho: ter aprendido com os mais velhos. Não há um professor, não há alguém que, em termos hierárquicos, esteja acima dos outros; cada um ensina o que sabe, qual o seu talento há muitos anos, seja o seu talento em cima do palco, ou fora dele, seja nas luzes, no som, na construção de cenários e vestuário. E acho que este mundo, este imaginário, começou a fazer-me sonhar enquanto criança. E o meu pai traz-me para lá. Por isso é que associo a profissão à questão do amor. Antes de eu sentir isto como uma forma de profissão, de ganhar dinheiro, eu faço por amor. E, por isso, é que às vezes em vez de fazer com a cabeça faço com o coração. E isso pode trazer algumas dificuldades, mas faço porque acho que tenho de ser fiel àquela criança que entrava com o pai em palco, e eu tento ser fiel a mim próprio, àquilo que eu fui e à minha história.
DM: Num ator, qual é a caraterística que destacas mais?
JC: Imaginação. Manter a criança interior. É o mais importante. Mais do que seguidores no IG, ser bonito ou ser feio... As crianças têm uma capacidade de imaginação...! Há um lugar qualquer quando nós passamos a barreira de ficar presos ao que a sociedade nos impõe, às regras da sociedade, à questão de termos barreiras emocionais, mas se conseguirmos encontrar aquele lugar ali, o teu corpo sabe, o teu corpo sabe o que é perder alguém mesmo que nunca tenhas perdido. É uma coisa que é genética, como as tartarugas sabem ir para a água sem saber como, assim que nascem. E nós temos isso, essa criança interior e essa imaginação. É o mais importante num ator.
DM: Quais são as fórmulas que tu vais encontrando para manter a ânsia sempre presente, sempre viva? O que é que tu fazes? Porque tu és tão motivador e, de repente, estou desanimado ou sei lá, e tu vens com uma ideia e aquilo na minha cabeça passa a ser a ideia mais brilhante de todas e que tem pernas para andar, e eu nunca tinha pensado nisso. É essa vida que tu tens, e ânsia que se mantém e acho que nunca a vais perder porque consegues sempre alimentá-la da melhor maneira... Quais são as fórmulas que tu vais encontrando para mantê-la presente?
JC: Não sei, não faço ideia. Não me lembro de fórmulas, nem nada. Gosto de me alimentar, no sentido de ver coisas novas, ler coisas novas, inspirar-me numa personagem qualquer que eu vi e pensar “nesta próxima personagem que eu vou fazer, que referências é que eu tenho?”. E, de repente, eu abro essa porta, e faz-me primeiro não fazer tudo igual, que eu acho que é uma coisa muito importante, e depois faz-me pensar “o que é que eu quero fazer a seguir?” e daí nasce a questão de... também a condição do país em que estamos, as condições que temos, o que é que eu acho que nós portugueses, em qualquer área da Cultura, temos capacidade de fazer e que às vezes não nos é permitido por algum motivo, seja financeiro ou de tempo, que também é dinheiro, não temos o tempo para fazer as coisas bem. A mim permite-me sonhar e apetece-me dizer “apetece-me escrever uma série, apetece-me escrever não sei o quê...”. E há um dia em que vai acontecer. Há um dia em que as ideias que eu tenho vão começar a ficar em papel e de papel vão passar para ecrã. Mais não seja para nunca estar estagnado. Eu tenho de sentir que estou sempre a pôr um pé no abismo e a corda ao pescoço e pensar “isto vai correr bué mal” e depois, de repente, há um salto de fé. E vai haver o dia em que vais bater lá em baixo, mas isso também te vai fazer crescer.
DM: Nos últimos anos tens feito parte de trabalhos de referência na nossa área e graças a esses trabalhos também, estamos a evoluir, estamos a caminhar para lá. E eu destaquei aqui três trabalhos que fizeste que eu acho que foram, de facto, um desafio para ti e em que tu te revelaste e conseguiste mudar, ou seja, alterar-te de personagem para personagem – um deles foi O Crime do Padre Amaro, em que eu estive muito perto, vivi de perto contigo essa história com o grande o Leonel Vieira, e que correu muito bem. Sentiste o peso da responsabilidade de estares a fazer uma obra do Eça?
JC: Senti, sem dúvida. Até porque eu sou apaixonado pela literatura do Eça. Adoro ler e eu sou apaixonado pelas obras todas que têm, de alguma forma, ou incesto ou alguma relação... O Crime do Padre Amaro é mais conhecido pela relação sexual ou erótica, do que outra coisa qualquer, se bem que eu acho que a obra é muito mais do que isso. Há ali quase um perigo inerente, mas que a paixão e o amor falam sempre mais alto do que aquilo que a sociedade diz. E isso transporta-te para um mundo, principalmente no Eça que quando escreveu isto nem sequer era... Se agora já é difícil pensarmos nisto, muito mais na altura.
Eu tive o peso de interpretar o Amaro, principalmente porque há uma ideia pré-concebida da sexualidade e do erotismo que a obra tem, mas que eu acho que é muito mais do que isto. Eu acho mesmo que eles se amam um ao outro e as pessoas não sabem que o Amaro não foi para padre porque quis. Ele é órfão, sempre teve desde cedo o contacto com a sexualidade e o erotismo, há uma descrição dele brincar no meio das saias das empregadas e isso é uma coisa que cresce com ele, quase a ser um homem muito sexual. E, de repente, a mãe adotiva que é a Marquesa de Alegros, como era hábito na altura dá-lo para a Igreja, que era normal um filho seguir a vida da Igreja, e ele de repente apaixona-se neste caso pela Amélia, e ele é homem, como ele diz, é apenas um homem. Ou seja, há um peso de tentar mudar o ponto de vista do que é O Crime do Padre Amaro. Tem muito sexo, sim, tem muito erotismo, mas não é sobre só isso. Até porque as cenas de sexo e erotismo são das poucas cenas em que aquelas personagens podem amar-se, ser um casal, porque na rua não podem.
DM: Depois tiveste oportunidade de fazer a série do Rabo de Peixe, uma produção Netflix, em que tiveste mais tempo para pensar na personagem. O que é que te trouxe? Obviamente que o projeto ainda não saiu por isso não podes contar muita coisa, mas em que é que te moldou como ator?
JC: Olha, a mim moldou-me primeiro como pessoa. Foi numa fase da minha vida em que eu estava um bocadinho mais em baixo, mais descrente, que acho que também faz parte. Esta personagem nasce, cai-te assim no colo, e tu dizes ‘como é que isto é possível?’. Acho que é a série mais bem escrita que já fiz, de longe. E acho que vai ser das melhores séries, se não a melhor série, que já fizemos em Portugal. Estou mesmo a pôr a fasquia lá para cima e eu não costumo fazer isto.
Acima de tudo, a história é extraordinária e nós, portugueses, vamos conseguir mostrar aquilo que somos capazes de fazer pelo mundo fora – e acho que é isso que precisamos de fazer neste momento. Nós temos talento, só precisamos que nos deem oportunidade, e tempo. São 7 episódios, com 3 meses e tal de preparação e 3 meses e tal de rodagem, é incrível. A minha personagem é um pescador, ter de pescar, ter de aprender, ter de estar com eles, pôr a mão na massa, perceber uma realidade que não é a minha, uma forma de mexer que não é minha, uma forma de sentir, uma forma de se expressar, os tempos de raciocínio... Essas coisas são as coisas que mais me fascinam.
Eu adoro não ser eu. N’O Crime do Padre Amaro quis engordar, também para sair desta ideia de um padre despe-se e é quase um deus grego. Depois porque aconteceu em 1870 e em 1870 quem é que tem um corpo de ginásio, ou trabalhado? Tens um corpo normal. N’O Rabo de Peixe foi tentar perder massa muscular, tentar ficar seco, aí há um trabalho de ginásio, de alimentação e de dieta, também que te afeta mentalmente porque a dieta põe-te num sítio de pressão, e que eu canalizei para a personagem. De estar quase sempre com a adrenalina e com medo de faltar alguma coisa. Eu acho que isso é das coisas que me fascina, como ator. E contracenar com este elenco extraordinário.
“Quero continuar a fazer teatro sempre, por mais dificuldades que a vida me possa pôr à frente, que é das coisas que mais me alimenta. Mas, acima de tudo, quero continuar a abrir horizontes. Fazemos parte de uma geração que vai abrir horizontes. Daqui a 25 anos quero estar orgulhoso de fazer parte de uma geração que levou Portugal para o mundo. Vamos trabalhar para isso.”
Casaco e calças Arthur Cunha
Camisa Luis Carvalho
Botas Ernest W. Baker
Casaco e calças Arthur Cunha
Camisa Luis Carvalho
Botas Ernest W. Baker
DM: Foste para o Brasil, também falámos nisso. O Brasil também foi para ti um concretizar de um sonho.
JC: Sempre quis trabalhar lá.
DM: Foi um sucesso.
JC: Sim, a personagem também ajudava a isso. Mas correu mesmo bem, foi muito especial esse projeto. Primeiro porque foi um salto fora do país e que é muito difícil. Tive a viver 10 meses num país sozinho, eu nem sequer um mapa mental tinha, do género sais de casa ‘onde é que é o supermercado?’. Na altura, tinha 21/22 anos. Fez-me crescer imenso. Cai num elenco em que era um dos protagonistas e aquilo foi uma cena. Primeiro por estar a trabalhar na Globo. Fui super bem recebido, mesmo muito. Têm um respeito enorme pelos atores portugueses e eu não fazia bem ideia. O que sentem, principalmente quando os atores brasileiros vêm trabalhar a Portugal, é ‘como é que vocês conseguem trabalhar assim? Com tantas cenas por dia e tão pouco tempo?’. Eles acham que somos máquinas. Lá, entras mais tarde, fazes 4 ou 5/6, no máximo 7 cenas; tu cá fazes 25 cenas por dia. É totalmente diferente. Chegas lá e o teu talento parece que salta para o triplo, ou mais. Porque, de repente, tu tens tempo para fazer, para pensar com o teu colega como é que vão fazer a cena. E isso foi extraordinário. Infelizmente depois apareceu a Pandemia, foi mesmo ali na altura, para tudo e volto para Portugal.
DM: Depois aparece aqui, e isto é que eu acho extraordinário, de tu trabalhares com o Almodóvar. Só um tipo como tu, com o teu talento. Como é que isto surgiu?
JC: Foi incrível. Um gajo diz isso “veio buscar” e eu fico do género... Foi aquele casting que eu fiz contigo, tu és tipo o meu amuleto da sorte, já reparaste?
DM: Porque fiz com o coração e faço sempre com a mesma vontade para ti que tenho para mim.
JC: Qual é o gajo maluco que eu digo ‘preciso que me dês 3 horas da tua vida a rasgar-te todo de emoção’? És o gajo a quem eu não posso dizer o que é que é e tu bora.
Ele é incrível. Tu vês a filmografia dele e pensas que o conheces muito bem, aquela loucura, ele é importantíssimo, eu acho que é a figura mais importante no cinema espanhol porque há uma linguagem de Almodóvar, de violência sexual, a imagem, as cores, é muito ele. E, de repente, tu tens uma ideia pré-concebida e quando o conheces ele é um amor. Não é que pensasse que era mau, pensava mais que era excêntrico. Gosta de contar histórias, de falar de atrizes e atores. Foi mostrar-me a cena do Dor e Glória, uma cena em que a personagem está lá no computador e aparece “projetos futuros” e vesse “Estranha Forma de Vida”. Ou seja, já estava lá uma cena que ele tinha na cabeça que era fazer esta curta.
É uma oportunidade única e às vezes, a querer ter os pés assentes na terra, acho que não aproveito bem aquilo que devia aproveitar. Não a oportunidade, mas por exemplo, trabalhaste com o Almodóvar, a primeira coisa que eu sinto é ‘calma, não faças disto a melhor coisa do mundo’. Mas é! Foi mesmo muito bom trabalhar com ele, soube-me mesmo bem. Não tanto apenas o que nós construímos na obra e nas cenas que fizemos... É uma curta-metragem, somos 7 atores, há 2 superprotagonistas, conheci o Pedro Pascal e o Ethan Hawke e são extraordinários. Mas, de repente, com o meu pequeno papel, o que eu mais trouxe dali, não só o que eu construi com ele, mas a confiança que ele te dá, que é ‘o que é que tu queres fazer? Acreditas nisso? Vai lá. Gosto disto, vamos fazer’. Ele sabia de algumas coisas, pela forma como me estava a tratar, acho que ele sabia.
DM: Qual era a tua formação, a tua experiência, o primeiro contacto que teve contigo também o fez perceber.
JC: Sim, ele sabia. O primeiro casting que eu fiz era de um filme dele, que era o Tudo Sobre a Minha Mãe, e o último casting foi um monólogo, e acho que esse monólogo foi onde eu senti que ele pensou ‘o que é isto? Isto é muita fixe’. Tínhamos a mesma linguagem, porque a forma como eu arrisquei a fazer aquele monólogo, ou era muito fixe ou era ‘o que é isto? O que é que este gajo veio para aqui fazer?’. E arrisquei estávamos em sintonia. E há uma cena em que estou lá no plateau e digo-lhe ‘olha, tenho uma ideia’ e dei por mim a pensar ‘estás parvo, estás a dizer que tens uma ideia ao Almodóvar, está calado’. Aquilo é um western, eu de pistola na mão, e a pensar ‘espero que ninguém me tenha ouvido’ e ele “diz, diz”. Para toda a gente, o set todo parado, e eu digo-lhe porque eu não estava a pensar só como ator, mas também sobre o que fica bem na câmara. E eu digo-lhe, enquanto pensava que ia dar porcaria porque isto já não é trabalho do ator, mas aconteceu-me pensar. ‘Se estando daqui e a câmara é uma 50, eu acho que isto ficava bué bem.’ E ele diz ‘grande ideia, ouviram? Vamos fazer assim’. Achei que me iam mandar embora. Acho que mostra muito mais sobre ele, do que sobre mim. Sobre a humildade de seres o Almodóvar e dizeres ‘diz-me’. A Arte é isto. Eu acho mesmo que somos uma família, incluindo o pessoal técnico.
DM: Quem é o José na vida privada? Na vida profissional já falámos um bocado.
JC: Eu acho que sou muito criança, num bom sentido de ser criança. Ser parvo, ser brincalhão, ser traquina. Não consigo explicar, mas a minha profissão molda a forma como eu estou na vida, nem que seja exatamente o oposto do que eu sou profissionalmente. Enquanto ator, tenho a cena do profissionalismo, do perfecionismo, da competição que é uma coisa saudável, contigo próprio e com os outros. Pensar “este ator é do caraças, eu quero crescer com ele”. É uma competição boa, tu vais crescendo. A nível pessoal,acho que sou mais pachorrento, gosto mesmo de desanuviar – por isso é que gosto tanto do Alentejo –, gosto de não fazer nada, mas ócio mesmo. Não fazer nada enquanto penso no que é que me apetece fazer. (risos) Adoro dormir. Adoro futebol - nós jogamos muito bem.
DM: Os prémios não caraterizam um ator, se bem que tu já tiveste nomeações e ganhaste prémios que definem o valor que tu tens, ou pelo menos te dão esse reconhecimento. O que é que tu queres alcançar daqui a 25, aos 50? O que é tu queres ser e onde é que queres estar?
JC: Há bué clichés que podia dizer, mas não me apetece. Vou dizer o que é que eu acho mesmo, estou a trabalhar para isso, posso não conseguir, mas estou a tentar. Duas coisas: quero continuar a fazer teatro sempre, por mais dificuldades que a vida me possa pôr à frente, financeiras ou não; quero ter a oportunidade e a coragem de não deixar de fazer teatro, que é das coisas que mais me alimenta. E conciliar com o que eu também amo, que é cinema, série e até televisão me faz bem. Mas, acima de tudo, continuar a abrir horizontes. Fazemos parte de uma geração que vai abrir horizontes, e isto leva-me à segunda parte, que é: daqui a 25 anos quero estar orgulhoso de fazer parte de uma geração que levou Portugal para o mundo e a ficção de Portugal para o mundo. Vamos trabalhar para isso.
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Moda
Os chapéus de cowboy estão de volta, mas também não é como se tivessem ido a lugar algum. Resgatados dos clássicos da chapelaria portuguesa, chegaram de forma tempestuosa e as últimas previsões não dão sinais de abrandar.
Num gap de mercado viram uma oportunidade. O que sabiam sobre chapéus quando decidiram criar a Hurricane?
Eu, Francisco Faria, na verdade pouco sabia sobre o mundo dos chapéus. A minha visão veio pelo meu background de contacto com o mundo da moda e do marketing nos últimos anos. Já a minha sócia, Tânia Senra, tinha trabalhado diretamente com o mundo da chapelaria. Houve um alinhamento tão evidente entre os dois que gerou uma marca com uma personalidade muito própria. Daí ter sido o match perfeito.
Chapéus há muitos, mas os vossos são especiais. Como são feitos? Desde o processo criativo até ao produto final, é tudo made in Portugal? Quem são as pessoas com quem trabalham e como chegaram até elas?
Os nossos chapéus são feitos à mão com lã 100% natural e biodegradável aqui no norte de Portugal. O processo criativo é muito intuitivo. Nós gostamos muito de o fazer em equipa porque, até agora, estamos sempre em sintonia na concepção do próprio produto. É uma parte muito divertida do nosso trabalho, porque adoramos testar cores novas, fitas, adereços. Acaba por ser um desafio inovar, ter um produto diferente, mas wearable. Trabalhamos com muitas pessoas, desde a própria confecção local aos fornecedores de feltros, caixas, etiquetas, acessórios,… temos muita gente envolvida e somos muito gratos por trabalhamos com estes profissionais que, acima de tudo, são muito amorosos connosco e com o nosso projeto. Chegamos até eles através de pesquisa, boca-a-boca e até bater às portas.
Misturam tradição com modernidade, intemporalidade com coolness. Que outras características servem a vossa ‘carapuça’ e onde começa e termina a vossa linha para que entre inspirações tão dispares se mantenham equilibradas?
Nós achamos que seria importante salientar aqui a questão da sustentabilidade e do slow fashion. Estamos a trabalhar para conseguir ser cada vez mais eco-friendly, plastic free e não produzir em massa. Tentamos sempre stock disponível, mas vamos gerindo a produção. Isto é algo que nos conecta com uma boa parte do nosso público, que valoriza e se identifica com estas iniciativas.
Em relação a essa disparidade, as coleções respeitam a tradição ao nível da produção, dos moldes e de toda a concepção do chapéu. Mas é preciso mais que isso, dar-lhe mais vida, torná-lo num objeto moderno, com personalidade, daí o twick que tentamos dar, seja pela cor ou pelos acessórios que usamos para elevar os chapéus que fazemos. Cada modelo, apesar das configurações que revisitam os clássicos da chapelaria, celebra pormenores ousados como o animal print, os metais, as cordas e outras particularidades cuidadosamente idealizadas por nós.
Cher, Ralph Lauren, Harry Styles, tudo nomes que surgem como alguns das vossas inspirações e que mostra bem a diversidade da marca. Há algum português que acrescentassem a esta lista?
Não temos uma personagem em concreto, mas temos um chapéu - o Laura - que é um modelo inspirado no tradicional chapéu de aba portuguesa. Além disso, fizemos recentemente uma série de chapéus para a campanha da Apiccaps, inspirados em obras de arte portugueses - "O Descanso" - Júlio Pomar
(1945); "O Fado" - José Malhoa (1903); "Retrato de Fernando Pessoa" - Almada Negreiros (1954). É uma honra entrar neste tipo de projetos e conectarmo-nos desta forma à história e cultura do país.
Os furacões são processos transformadores, que mexem com as estruturas-base – o que há no mercado de moda (nacional e internacional) que gostassem de ver ‘abanado’?
O fast fashion e a igualdade de género. No nosso país temos excelentes marcas nacionais de alta qualidade e uma indústria onde temos percebido que, principalmente ao nível dos acessórios e do calçado, privilegia matérias primas de qualidade, cada vez mais sustentável e o respeito por mão-de-obra especializada. Assim, fazemos um apelo a consumir menos e melhor, produtos duradouros, made in Portugal. Além disso, assumimo-nos como uma marca genderless. Qualquer um dos nossos produtos pode ser usado por homens e mulheres e não fazemos qualquer diferenciação, seja qual for o produto. Gostamos dessa liberdade na moda.
Equipa
Cabelos Vasco Freitas
Maquilhagem Ricardo Pedro
Assistentes de fotografia Pedro Sá e Vicente Sottomayor
Retouching José Paulo Reis @Lalaland Studios
Vídeo Raul Sousa
Produção Larissa Marinho
Assistente de produção Alexandra Aires
Location Centro Hípico da Feira - Cavalos e Companhia
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