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Entrevista por Joana Moreira
Fotografia por Frederico Martins
Styling por Joyce Doret
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Surgiu na televisão como uma jovem promessa e, ao longo dos anos, consolidou-se como um dos grandes nomes da representação portuguesa. Com um percurso repleto de desafios e personagens várias, Sara Matos nunca teve pudor em mostrar a versatilidade como motor da força das histórias que escolheu contar. Eis uma atriz que encontrou, na tela e além dela, um espaço para se reinventar.
SOLO: Nestas imagens estás no chão, rodeada de televisões. A televisão teve um papel determinante na tua carreira?
SARA MATOS: Sim. Esta ideia partiu do Frederico, mas confesso que ao viver esta experiência senti que tinha tudo a ver comigo. Não só pelas televisões e pela máquina fotográfica, mas também pelas perspetivas diferentes das câmaras, pensei nos personagens, na minha vida e o quão a mudança é importante para mim e para o meu crescimento. O meu ponto de partida foi o teatro não foi a televisão, porque fiz a Escola Profissional de teatro de Cascais, comecei no conservatório, mas de facto a televisão foi sempre das três áreas a que teve um papel mais relevante até agora no meu percurso artístico.
S: Porquê?
SM: Acabou por acontecer assim. Mas sinto que só me formei atriz quando realmente acabei a Escola Profissional de Teatro de Cascais. Foi a primeira vez que me senti realmente uma atriz profissional, formada, segura, com as gavetas emocionais minimamente no sítio. Com a idade que tinha na altura acho que estava bastante segura para os projetos que poderiam surgir. Mas é sempre o teatro, quando faço essa introspeção, quando me questiono, penso sempre e agradeço muito o facto de me ter formado em teatro porque dá-me segurança e mais valias para conseguir fazer o percurso que tenho conseguido fazer essencialmente em televisão.
S: Olhando em retrospetiva para o teu percurso percebe-se que na televisão fizeste coisas muito diferentes: representaste, apresentaste, venceste concursos tanto de dança como de canto. A televisão é muitas vezes apelidada como um meio quadrado e conservador, mas parece ter sido um lugar que te deu margem para experimentar e arriscar.
SM: Tive muita sorte.
S: Achas que é sorte?
SM: Tive muita sorte no sentido em que desde muito cedo soube aquilo que queria fazer. Sempre me ensinaram que se queria alguma coisa tinha que lutar por isso. Enfrentei esta profissão com muito esforço, dedicação e disciplina, essencialmente. Às vezes esquecemos desta palavra, mas é muito importante principalmente a fazer teatro e televisão. Não digo em cinema porque não sou tão experiente quanto gostaria de ser, mas de facto é preciso muita disciplina. Pelos horários, por equilibrar a questão de te questionares... Tens de o fazer, mas é importante que isso não seja uma coisa que te ultrapasse, que te deixe completamente assoberbada ao mesmo tempo. Equilibro tudo tendo uma vida simples, uma vida em que a televisão, apesar de ser aquilo que tu fazes, não é aquilo que tu és, não te ocupa esse espaço emocional.
S: Como é que se foge dessa armadilha de se ser o que se faz?
SM: Não se foge, acho que se adapta. Não fugimos nunca. Tem muita graça porque ainda há pouco estava a comentar isso com uma senhora que não me estava a reconhecer porque eu estava de boina. Por acaso gosto de usar a boina, mas nunca tive aquela necessidade de pôr um chapéu precisamente porque não me vejo assim como uma pessoa que é reconhecida na rua, muito pelo contrário. Acho que isso teve muito a ver com a educação que tive, ajudou-me muito nesse sentido. Portanto não se foge, adapta-se, encarando tranquilamente.
S:Apareces na febre dos Morangos Com Açúcar, com 19 anos. Como é que foi o embate com a exposição pública, e sobretudo com esta questão de as pessoas não quererem saber só do teu trabalho, mas também de ti?
SM: Sempre estive rodeada de pessoas que me diziam que inevitavelmente isso acabaria por acontecer se as coisas dessem certo. Portanto, acho que foi uma coisa sempre muito trabalhada desde cedo, no sentido de me distanciar o suficiente, mas perceber que faz parte da realidade. Nós é que temos que impor esses limites. Sou uma pessoa que naturalmente está no meio da natureza e mesmo quando não estou a trabalhar gosto de estar no silêncio, de ler, de me deitar cedo. Sempre fui uma pessoa muito resguardada. Não porque tive que me impor isso, mas pela minha forma de ser, pela minha natureza. E, depois, todos os papéis que até agora tenho feito em televisão são sempre os papéis tão relevantes, de uma assiduidade tão grande, que de facto quando estou a fazer estou sempre a trabalhar. E quando não estou a trabalhar estou sempre em silêncio, muitas vezes sozinha. Faço muitos programas sozinha, gosto muito de ir ao teatro sozinha, de ir ao cinema sozinha. Claro que tenho os amigos que são estruturais para mim, que são a minha base, mas confesso que sou uma pessoa muito desligada daquilo que faço ao mesmo tempo. Sinto que quando estou dou tudo, mas ao mesmo tempo não vou olhar para trás em busca de uma perfeição. Muito pelo contrário.
S: Enquanto alguém que se interessa por aquilo que dá corpo ao trabalho, há uma natural curiosidade em saber quem tu és. Esse interesse parte do pressuposto de que quem tu és é importante para o trabalho que fazes. Achas que é importante saber do que é que são feitos os atores, ou isso não devia ser relevante?
SM: Claro. Quer dizer, para mim o importante são as pessoas. Para mim o mais importante é ouvir, é escutar. Não sou propriamente uma pessoa que fale muito a não ser que seja preciso para trabalhar. Meu Deus, até já apresentei. Hoje em dia olho para trás e penso: uau, apresentei um programa de televisão, como é que é possível? Mas é possível, de facto encarei aquilo como uma personagem. Tive uma oportunidade inacreditável. Mas ao fim e ao cabo sempre por achar que é uma personagem que está ali. Ao mesmo tempo, apesar de as pessoas estarem muito habituadas a ver-me na televisão, sinto que não ocupo muito espaço, não sou propriamente a pessoa que fala muito ou que exige muita coisa. Qualquer pessoa que trabalhe comigo pode sublinhar isso. Lá está, levo-me a sério porque gosto da pessoa que sou, porque me questiono muito. Temos que saber quem somos. Não tem mal às vezes estarmos perdidos, eu muitas vezes estou perdida aqui um bocadinho. Estruturalmente sei quem sou, sei a minha base, mas há muitas contradições e muitas coisas ao calhas que faz parte do meu crescimento e da minha mudança. Mas abraço-as. Falo do erro, de coisas que vou aprendendo, de coisas que há um mês atrás não faria assim ou não pensava assim.
S: Encaras a apresentação como um erro, um passo no percurso mais fora do baralho?
SM: Mas não com arrependimento, muito pelo contrário. Agradeço. Se fosse hoje se me pedissem para apresentar... Não sei, dependia do projeto. Não tenho nada planeado, as coisas foram-me surgindo, os projetos foram-me surgindo e aceito-os com verdade e simplicidade. Sou atriz, não sou apresentadora, mas como atriz de um canal onde estou há muito tempo, a SIC, quando me propõem projetos desses que acho que têm tudo a ver comigo, porque sempre gostei muito de dançar, cantar e arriscar, gosto muito de divertir-me e conhecer pessoas, portanto, porque não? Mas sempre mais numa perspectiva de atriz do que de apresentadora.
S: Tinhas quase 20 anos quando entras nos Morangos. Estavas a entrar numa década definidora, a entrar na idade adulta. Essa postura reservada sempre tiveste ou resultou também destes primeiros anos?
SM: Acho que fui aprendendo, sinceramente, quando entrei para a Escola Profissional de Teatro de Cascais e tinha 14 anos. Já me questionava, não foi preciso chegar aos 20. Já me achava uma pequena adulta com 14 anos porque questionava muita coisa, esta ligação tão física e emocional aos nossos pais... Acho que começou desde aí. Fui trabalhando desde muito cedo esta pessoa e pessoas que há em mim e que foram e que vão ser. Não foi porque entrei na televisão, lá está. Foi desde que escolhi o teatro.
S: Alguma vez estiveste em palco e pensaste "se calhar podia escrever uma peça"? Tens algum ímpeto para criar?
SM: Tem muita graça porque muitas vezes dou por mim a conversar isso com amigos também atores, porque eles próprios têm essa chama, essa busca. Eu não tenho nada. Não faço ideia se é uma coisa que ainda vou ter, se me falta conquistar alguma coisa, mas não tenho qualquer conflito interior sobre isso. Não tenho. Não sei se um dia vou ter.
S: Dizes que não olhas muito para trás. Pensando no arco da tua carreira, como descreves este momento que estás a viver?
SM: O meu percurso vai caminhando comigo. Estou muito agradecida e mantenho-me assim, sou grata com as oportunidades que a vida me tem dado profissionalmente e pessoalmente, porque para mim não dá para separar uma coisa da outra. Aquilo que sou hoje e onde me encontro é o resultado do que fiz até agora. Não faz muito sentido imaginar como é que seria se tivesse feito isto ou aquilo. Está tudo tão a acontecer. A minha vida é isso: questionar-me, pensar, sentir, olhar e tocar. Sinto-me muito viva. Não consigo pensar como é que as coisas teriam sido se fossem de outra forma.
S: Dizes que não dá para descolar a relação pessoal da profissional. Como é a tua relação com o trabalho. O que retiras do trabalho: é só prazer ou também encontras algum refúgio para a distração de outras coisas?
SM: Principalmente quem trabalha nesta área, em que quase sempre emprestamos emoções nossas, porque é o nosso corpo, as nossas mãos, o nosso olhar sobre as coisas, obviamente com outras personagens, mas as vivências são nossas... Um resultado disso tudo acaba por ser um refúgio, sim, mas não conseguiria ter feito aquilo que fiz profissionalmente se não tivesse trabalhado a minha parte pessoal de uma maneira equilibrada. Sempre fui, sempre tive a sorte de estar rodeada de pessoas que me deram muita estabilidade emocional. Acho que isso me ajudou a rasgar algumas barreiras, limites meus, em termos físicos, em termos de princípios, para conquistar e para fazer outras personagens que não tenham nada a ver comigo só consigo fazê-lo sentindo-me segura pessoalmente. Não consigo desligar uma coisa da outra. Consegui fazer isso porque quando acabava de trabalhar tinha o meu lar, as minhas pessoas comigo. Caso contrário acho que iria mexer demasiado com gavetas emocionais e não iria ser saudável. Sinto que sou muito saudável no ponto em que estou: com fazer as pazes com o que faço. Não há um dia em que pense: não me apetecia nada ser reconhecida na rua, nunca tive esse pensamento. Não sei bem como é que se pode chamar isso. Diria tem a ver com gratidão, com fé, não sou religiosa, a minha fé é a natureza... É um resultado de muita coisa.
S: Há uma fixação cultural com a idade das mulheres. Aos 34 anos, é uma coisa que te preocupa?
S: Envelhecer?
S: Por exemplo, fala-se muito dos papéis das mulheres que faltam às mulheres mais velhas.
SM: Pode soar mal, mas sinto-me desligada disso. Não sei como vai ser o dia de amanhã, mas confesso que não é um tema muito importante para mim. Aliás, é um tema muito pouco importante no sentido de envelhecer. Estou muito grata com os meus 34 anos e com as minhas rugas e com envelhecer da forma mais saudável possível. Gosto muito de fazer exercício físico, ainda hoje acho que se tivesse mais tempo tinha sido atleta (risos). Gosto muito de movimentar o corpo. O que quero é envelhecer da forma mais saudável que possa. Depois tem muito a ver com a genética, porque já me olho no espelho e já vejo diferenças gigantes de quando tinha 20 anos. E está tudo bem. Estou muito grata porque estou cá, estou a envelhecer e vou poder fazer personagens que não podia fazer antes. E há outras coisas que já não posso fazer porque já não tenho aquela idade e está tudo bem. Isso é prova que estou cá.
S: Que coisas ainda queres fazer?
SM: Agora neste momento estou preocupada em fazer esta peça de teatro com a Rita Calçada Bastos, encenadora. Estou muito contente. Há aqui uma grande oportunidade de voltar para a segunda temporada da série em Espanha que estive a fazer.
S: Punto Nemo — uma série espanhola da Amazon Prime, que tem estreia marcada para 2025. Como é que isso aconteceu?
SM: Acabei por ser chamada para fazer esta personagem. Foi de um momento para o outro, precisavam de uma portuguesa, fui e fiquei. Passado duas semanas já estava em Espanha a gravar a série. Foi muito diferente no sentido em que há um orçamento completamente diferente. Tive oportunidade de mostrar o meu trabalho e ser uma referência lá fora enquanto portuguesa. Falo da minha disciplina, da minha verdade, da minha forma de trabalhar, que eu diria que é muito apaixonada por aquilo que eu faço. As pessoas notam isso e fico muito feliz porque é a verdade. Sou muito apaixonada por aquilo que faço e ter passado essa mensagem lá para fora é uma coisa que me deixa muito feliz. Gosto de sentir que faço um bom trabalho e a diferença realmente, em termos artísticos, é que o orçamento é diferente.
S: É uma série internacional. Ainda há esta ideia de que é preciso sair fora da televisão convencional para alcançar o reconhecimento dos pares?
SM: Não.
S: Já não há a síndrome de "ator e atriz de novela"?
SM: Nunca senti isso na pele, mas sei que acontece, porque leio, porque sou informada, porque falo com pessoas. Mas não posso dizer que sinta isso. Porquê? Porque consegui até agora estar ligada e fazer projetos de teatro e televisão ao mesmo tempo. Se não fiz mais cinema foi porque infelizmente ou felizmente, digamos assim, estive sempre a trabalhar em coisas que queria muito fazer.
S: Falas dos muitos projetos e do entusiasmo pela profissão de atriz. Com tantos projetos apetecíveis ao virar da esquina, como é que se para?
SM: É verdade. Tenho parado sempre um mês, o que não é muito. Mas agora o meu próximo projeto é só em março. Tenho aqui uns meses. Estou apaziguada com isso.
S: O que vais fazer?
SM: Não faço ideia, mas se há coisa que gosto é de ocupar o meu tempo. A ler, a passear, a ir ao teatro. Mas não tenho nada planeado. Sinto que os dias passam muito rápido. Talvez porque esteja ocupada com coisas que me enchem a alma, que me alimentam.
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Entre reportagens e viagens pelo mundo inteiro, o percurso da fotografia de culinária e lifestyle de Jorge Simão culminou na abertura da empresa Simon Says.
A luz que atravessa o estúdio lisboeta já serviu para produções de moda, mas também para os chefs que iluminam alguns dos melhores restaurantes do país. Pedro Pena Bastos, Hugo Nascimento, David Muñoz, José Avillez, Vítor Sobral são alguns dos nomes que por ali passaram. Afinal, o fotógrafo Jorge Simão há anos que se tem dedicado a colaborar de perto com chefs, proprietários de restaurantes, assessores e promotores. Consigo carrega as memórias de Luanda, sua cidade natal, que influenciam o seu olhar por trás das lentes, o modo como manipula os alimentos.
Com áreas dedicadas tanto para ensaios fotográficos quanto para filmagens culinárias, o Simon Says Studio combina cenários sofisticados com cozinhas totalmente equipadas, proporcionando o ambiente perfeito para capturar a essência de ambos os mundos. Ali, a moda e gastronomia encontram-se para criar conteúdos visuais que inspiram e encantam.
O espaço multifuncional une o melhor da gastronomia e da fotografia, oferecendo uma experiência única e completa para eventos, workshops e produções audiovisuais. Para os amantes da culinária, há ampla gama de workshops de cozinha, que incluem desde masterclasses exclusivas com renomados chefs portugueses até experiências temáticas que celebram o melhor da cozinha portuguesa para estrangeiros, explorando a cultura local com fado e vinhos. Também há sessões voltadas para técnicas de cozinha, nutrição, e até mesmo aulas especiais de cozinha para crianças, além de atividades de teambuilding que reforçam o espírito de equipe em um ambiente descontraído.
Além disso, há também workshops de fotografia, perfeitos para aqueles que desejam aprimorar suas habilidades em capturar momentos únicos, seja para uso profissional ou hobby. O estúdio também é um local versátil para eventos corporativos, apresentações de produtos, exposições de fotografia ou sessões de leitura que promovem a cultura e a arte.
Para produções de fotografia e vídeo, tanto a área de estúdio quanto a cozinha estão à disposição, proporcionando cenários adaptáveis e profissionais para campanhas publicitárias, editoriais, videoclipes, entre outros projetos criativos.
O Simon Says Studio começou por ser um estúdio de produções de fotografia e vídeo, mas hoje é muito mais. Voltando atrás, que espaço era este quando o encontrou?
O Simon Says nasceu como estúdio de Fotografia e Vídeo, para mim e para alugar a outros fotógrafos e filmmakers. Quando o encontrei era um armazém e foi com o arquiteto João Monteiro que desenhamos o espaço e também o diretor criativo, Vitor Vicente.
Refere-se a ele como uma segunda casa, porquê?
É uma segunda casa no sentido que transporto o que fazia em minha casa: receber clientes, colegas, amigos e estamos à volta da comida e vinhos.
A comida parece ter conquistado também um espaço, com materclasses com chefs estrelados e reputados. De que forma está o espaço preparado e em que consiste este conceito?
Fotografo muita comida e vinhos, desde livros a publicidade e diretamente com chefs. Como fiz duas cozinhas, uma delas foi logo pensada para masterclasses com chefs reputados, sommeliers e pasteleiros. São duas paixões: a fotografia, que é a minha profissão, a cozinha e a música também.
Equipa
Maquilhagem Elodie Fiuza
Cabelos Cláudio Pacheco
Assistentes de fotografia Pedro Sá @ Lalaland Studios e Bernardo Guedes
Retouching Tânia Castro @ Lalaland Studios
Produção Carla Sequeira @ UandME
Video Raul Sousa
Lugar Simon Says Studio
Texto Joana Moreira
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